sábado, 8 de agosto de 2009

Capítulo II/ parte 2

"A bolsa por dentro:
Abri devagarinho. Com um medo danado de ser tudo vazio. Espiei. Nem acreditei. Espiei melhor.
- Mas que curtição! - berrei. E ainda bem que só berrei pensando: ninguém escutou, nem olhou.
A bolsa tinha sete filhos! (Eu sempre achei que bolso de bolsa é filho da bolsa.) E os sete moravam assim:
Em cima um grandão de cada lado, os dois com zipe; abri-fechei, abri-fechei, abri-fechei, os dois funcionando muito bem que só vendo. Logo embaixo tinha mais dois bolsos menores, que fechavam com botão. Num dos lados tinha um outro - tão magro e tão comprido que eu fiquei pensando o que é que eu podia guardar ali dentro (um guarda-chuva? um martelo? um cabide em pé?). No outro lado tinha um bolso pequeno, feito de fazenda franzidinha, que esticou todo quando eu botei a mão dentro dele; botei as duas mãos: esticou ainda mais; era um bolso com mania de sanfona, como eu ia dar coisa pra ele guardar! E por último tinha um bem pequenininho, que eu logo achei que era o bebê da bolsa.
Comecei a pensar em tudo que eu ia esconder na bolsa amarela. Puxa vida, tava até parecendo o quintal da minha casa, com tanto esconderijo bom, que fecha, que estica, que é pequeno, que é grande. E tinha uma vantagem: a bolsa eu podia levar sempre a tiracolo, o quintal não."

Lígia Bojunga Nunes

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Velho e o Moço

"E se eu for o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado?
Ah, olha, se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim?
Dispenso a previsão
Ah, se o que eu sou, é também o que eu escolhi ser, aceito a condição
Vou levando assim
Que o acaso é amigo do meu coração
Quando falo comigo, quando eu sei ouvir."

Los Hermanos

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Capítulo II

"[...]Derrepente sobrou alguma coisa pra mim.
- Toma Raquel, fica pra você.
Era a bolsa.

A bolsa por fora:
Era amarela. Achei isso genial: pra mim amarelo é a cor mais bonita que existe. Mas não era amarelo sempre igual: às vezes era forte, mas depois ficava fraco; não sei se porque ele já tinha desbotado um pouco, ou porque já nasceu assim mesmo, resolvendo que ser sempre igual é muito chato.
Ela era grande; tinha até mais tamanho de sacola do que de bolsa. Mas vai ver ela era que nem eu: achava que ser pequena não dá pé.
A bolsa não era sozinha: tinha uma alça também. Foi só pendurar a alça no ombro que a bolsa arrastou no chão. Eu então dei um nó bem no meio da alça. Resolveu o problema. E ficou com mais bossa também.
Não sei o nome da fazenda que fez a bolsa amarela. Mas, não era uma fazenda grossa, e se a gente passava a mão arranhava um pouco. Olhei bem de perto e vi os fios da fazenda passando um por cima do outro; mas direitinho; sem fazer bagunça nem nada. Achei legal. Mas, o que eu ainda achei mais legal foi ver que a fazenda esticava:
- Vai dar pra guardar um bocado de coisa aí dentro"

Lígia Bojunga Nunes

To be continued.